15/07/2022
Unidas vão mais longe, sem competição entre si, mas com muita garra. São as Mulheres à Obra, que acabam de vencer um prémio de melhor ideia de negócio por quererem levar bem-estar às empresas.
Toda a gente sabe que a felicidade e o bem-estar de qualquer colaborador são meio caminho andado para o sucesso da empresa onde este trabalha. Tal afirmação já nem suscita qualquer tipo de debate, de tão óbvia que é. Mas o que já não é assim tão claro é o que fazer para que a ideia bonita deixe de estar apenas no papel e passe para as práticas diárias do tecido empresarial. É precisamente aqui que o projeto Wellness MAO – WELL4FEM promete fazer a diferença, ao ponto de ter conquistado o primeiro lugar no Prémio Melhor Ideia de Negócio – Go Green Go Social 2021, promovido pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (NOVA FCSH) e pelo Santander Universidades.
Criar espaço e tempo nas próprias empresas para o cuidado dos colaboradores e incentivá-los (dando-lhes condições, claro) à busca do equilíbrio, são algumas das propostas deste projeto, que tem ainda a virtude de estimular o empreendedorismo feminino. Isto porque foi gerado dentro da comunidade Mulheres à Obra (MAO), uma plataforma colaborativa de mulheres empreendedoras com micronegócios em diversas áreas, nomeadamente na saúde e bem-estar.
Segundo Camila Rodrigues, fundadora e administradora da MAO, o objetivo do projeto explica-se de forma muito simples: “Com uma comunidade tão vasta e variada, conseguimos criar pacotes de bem-estar à medida para empresas, coworks, faculdades e outras entidades que acreditam na importância de desenvolver ambientes de trabalho saudáveis e equilibrados.” Assim, às empresas que se preocupam em proporcionar mais qualidade de vida e felicidade aos seus colaboradores, o Wellness MAO – WELL4FEM pode propor uma imensa variedade de atividades recreativas, culturais e desportivas, assim como estimular o contacto com a natureza, promover o voluntariado, organizar retiros ou ações de team building, entre outras.
Atuar em duas frentes
Para Camila Rodrigues, que é licenciada em sociologia e doutorada em ciência política, o projeto resulta da constatação de duas realidades que caracterizam a vida de muitas mulheres que integram a MAO: “Por um lado, temos inúmeras empreendedoras com pequenos negócios numa área bastante competitiva e saturada, que lutam arduamente para garantir a sua sustentabilidade num contexto muito desafiante. Por outro lado, temos ambientes de trabalho pouco saudáveis, que antagonizam a vida pessoal e familiar, geram situações de stress continuado e originam um cansaço extremo que compromete a nossa qualidade de vida e de trabalho”.
Assim, o Wellness MAO – WELL4FEM visa não só “desenvolver competências colaborativas entre mulheres empreendedoras”, como também “sensibilizar a nossa sociedade para a importância do bem-estar no trabalho, particularmente no que se refere às mulheres empreendedoras, que tantas vezes acumulam responsabilidades e obrigações, tanto laborais como familiares”, destaca. A este propósito, a também investigadora no Instituto Português de Relações Internacionais chama a atenção para os “elevadíssimos níveis de stress e de cansaço em empreendedoras”, apurados num questionário que tem estado a circular entre as mulheres MAO, no qual “surpreendentemente classificam o seu nível de bem-estar como médio”. Para a responsável, “isto significa que normalizaram sentimentos manifestamente adversos e que têm expectativas baixas relativamente à sua própria qualidade de vida”.
Perante este cenário, não é, pois, de estranhar que uma das áreas de intervenção do projeto vá passar, a breve prazo, pelo desenvolvimento de “um calendário variado de atividades de bem-estar pensadas especificamente para a própria comunidade de microempreendedoras MAO, pois “estas mulheres estão frequentemente sobrecarregadas de responsabilidades e esquecem-se de cuidar de si”.
Como podem as empresas fazer diferente?
Mas, afinal, o que é que uma empresa pode fazer com vista a contribuir para o bem-estar dos colaboradores? Paula Duarte, Coach de saúde e bem-estar e uma das três responsáveis pelo Wellness MAO – WELL4FEM, responde que tal pode passar por “criar espaços de bem-estar nas próprias empresas, onde os colaboradores possam relaxar e recuperar”, mas também por “definir dias dedicados ao cuidado dos colaboradores ou oferecer serviços e produtos que contribuam para a qualidade de vida no trabalho”.
“Os colaboradores não devem ser encarados como números, eles são a força motriz de cada empresa, e a sua individualidade deve ser reconhecida e valorizada”, sublinha a licenciada em relações públicas e publicidade, realçando que “este é também um dos pressupostos do Wellness MAO”. Nesse sentido, propõem-se “destacar os pontos fortes de cada colaborador, elaborando programas personalizados, que vão ao encontro das reais necessidades de cada um”, porque “um colaborador feliz e motivado é mais produtivo e empenhado”.
Boa prática destacada e premiada
Em dezembro último, a relevância do Wellness MAO – WELL4FEM foi reconhecida pelo júri do Prémio Melhor Ideia de Negócio – Go Green Go Social 2021, promovido pela NOVA FCSH e pelo Santander Universidades. Mas, já antes, a plataforma tinha sido destacada como boa prática de empreendedorismo feminino por três iniciativas europeias distintas, além de que tinha arrecadado outros dois prémios. Sílvia Vaz Pinto, também empreendedora na área do bem-estar, frisa a importância destas distinções, em particular da que chegou já no final de 2021: “Foi uma conquista muito importante para nós, principalmente pela confiança que isso nos trouxe. O pensamento imediato foi que valeu a pena e que nós temos o que o mercado precisa.” Além disso, considera que “ganhar perante tantos projetos incrivelmente inovadores foi muito bom e revelador da credibilidade do projeto”.
Na mesma edição do prémio, cujo pitch final aconteceu no dia 14 de dezembro de 2021, foram também premiados os projetos CO2 Diamonds e Fluxo Livre, que ficaram em segundo e terceiro lugares, respetivamente.
Para a licenciada em gestão de recursos humanos e psicologia, é importante que se realizem estas competições de ideias inovadoras e empreendedorismo, as quais comparara a “participar numa reunião de brainstorming”. “Ideias que, à partida, podem não estar relacionadas com o nosso projeto, podem acabar por fomentar novas ideias e abrir novas perspetivas”, observa, acrescentando que estes concursos são “o ambiente ideal para aguçar o engenho humano, quer pelo estímulo extra de ser melhor para vencer, quer pelo contacto com diferentes conceitos”.
Do Facebook para o futuro
O projeto Wellness MAO – WELL4FEM só é possível porque, há cerca de cinco anos, surgia no Facebook a comunidade Mulheres à Obra, como resultado de “uma discussão num grupo de mães sobre as dificuldades de conciliar a vida familiar com a vida laboral”, recorda Camila Rodrigues. Na sequência daquele debate, foi criado um grupo com o propósito específico de “facilitar as sinergias entre estas mães e rapidamente o grupo se abriu a todas as mulheres, independentemente de serem mães ou não”. Hoje, mais de 150 mil mulheres integram o grupo, está disponível um portal com mais de 400 artigos informativos publicados, lançaram um livro (Mulheres à Obra – Movimento mulheres empreendedoras, da autoria de Camila Rodrigues e Carla Lopes) e organizam uma conferência e feira de negócios anual, além de que são desenvolvidas diversas iniciativas formativas e de networking.
“Acreditamos que vamos continuar a crescer, não apenas em quantidade de membros, mas sobretudo na qualidade, profundidade e alcance do nosso trabalho, pois a experiência que vamos adquirindo ajuda-nos a fazer cada vez mais e melhor”
Camila Rodrigues
“Somos já uma referência incontornável no empreendedorismo feminino em Portugal”, assume a fundadora com orgulho. Quanto ao futuro, tudo indica que continue a ser brilhante, já que o grupo acabou de se constituir como empresa e conseguiu ver aprovado o seu primeiro projeto financiado por fundos comunitários. “Acreditamos que vamos continuar a crescer, não apenas em quantidade de membros, mas sobretudo na qualidade, profundidade e alcance do nosso trabalho, pois a experiência que vamos adquirindo ajuda-nos a fazer cada vez mais e melhor”, afirma.
Mulheres empreendedoras e a colaborar entre si era algo pouco frequente há algumas décadas no nosso país, mas felizmente a realidade tem vindo a mudar. Sílvia Vaz Pinto não hesita em considerar que “as MAO são uma prova viva do sucesso de projetos liderados por e para mulheres”. “Notamos que caminhamos na direção certa, a da cooperação”, refere, destacando que “cada vez mais é notório o sucesso de empresas em que a base principal é o recurso humano no feminino. Ainda há trabalho a fazer, mas o caminho está aberto rumo a cada vez mais cooperação entre empreendedoras de sucesso. Estamos cá também para contribuir e o Wellness MAO é prova disso”.
Paula Duarte corrobora, salientando que o projeto agora premiado “incentiva a colaboração por objetivos comuns, deixando para trás o conceito de concorrência, promovendo uma conjugação de esforços por um objetivo comum”. E fazendo eco do espírito de todas as Mulheres à Obra, resume a essência do projeto: “Estamos certas de que uma das grandes mais-valias do processo colaborativo está ligada à união de várias mulheres, que conjugam propósitos com um espírito de união e projetam atividades consolidadas e certeiras.”
Fonte: Observador